terça-feira, 3 de novembro de 2009

Fortaleza: uma cidade e suas praças



Vale a pena recordar nossa querida Fortaleza dos tempos que já se foram, deixando em cada um que acompanhou, vivenciou, sentiu e soube desfrutar momentos que enchiam o coração de prazer, essa satisfação vinda do íntimo de cada um de nós amantes da terra da Luz. Caminhar pelas ruas do passado, descrevendo-as, com suas praças e monumentos, usos e costumes, eis o motivo - a viagem - central dessa edição.

AH! FORTALEZA QUE VIVI NOS TEMPOS QUE JÁ SE FORAM DEIXANDO APENAS LEMBRANÇA, E, PODER AGORA, COM OLHAR VOLTADO AO PASSADO, MAREJANDO OS OLHOS, SENTINDO A ARDENTE SAUDADE OFEGANTE NO PEITO O VAZIO DOS VIVIDOS INSTANTES DO DIA A DIA NUMA METRÓPOLE ONDE QUASE TODOS SE CONHECIAM E PARTICIPAVAM DAS MESMAS EMOÇÕES QUE GARANTIAM O SENTIMENTO INFORME DOS SEUS HABITANTES.

Os suspiros do eu

Ah! Tempos passados! Que lembranças não se apaguem dentro de cada um - e que continuem no escaninho de um passado não tão remoto - para que possam ainda transmitir um pouco do animado, acompanhando e fazendo nostalgia nessa urbe de hoje, transformada em grande metrópole! Que deixe esvair pelo passar dos tempos velhas lembranças que ainda se aninham junto ao peito, impedindo a invasão do inimigo - Alzheimer - para que dele não se apodere inesperadamente, invadindo-o esse cabedal intransferível e inalienável.

Cores e sons

Da Fortaleza de outrora ficou a imagem da beleza das antigas ruas e avenidas: os canteiros centrais, divididos por frondosos oitizeiros, que nos abrigavam, com suas sombras, amenizadas pelos ventos que sopravam enfurecidos, com luar prateado nas noites, penetrando por entre os arvoredos, projetando estrelas que tapetavam o chão chapiscado de luz da lua, até o amanhecer do dia, despertando os pássaros, nos ninhos de tenra plumagem. Assim, Fortaleza acordava, risonha, embalada pelos maviosos cantos dos pássaros e do repetido do trinado gorjeio no alto das frondosas árvores.

Praça do Ferreira

Essa é uma quadra a começar pelo lado poente da rua Major Facundo, com rua Guilherme Rocha, em direção da rua Liberato Barroso. Bem na esquina, ficava o Café Riche, depois a Loja Broadway, do Sr. Alberto Bardawil, depois loja Tok Discos. Vizinho, com uma porta estreita, funcionou um armarinho, para venda de gravatas, camisas, lenços, canetas e relógio, depois Rei das Canetas.

Cruzando ruas

A seguir as Lojas Sloper (filial do Rio de Janeiro), depois Banco Mercantil do Brasil. Depois, vinha o Cine Polytheama, dos irmãos Rola, hoje Cine São Luís, geminado ao prédio que serviu de escritório da Empresa Ribeiro, de propriedade do Sr. Luis Severiano Ribeiro, hoje com rua lateral dando acesso à rua Barão do Rio Branco.

Mais adiante a Pharmacia Pasteur - Estabelecimento Eduardo Bezerra, hoje lojas Marisa e Farmácia Avenida; ainda o antigo Cine Majestic e Bar, com cadeira de pés de ferro e pequena mesa de mármore, com música ao vivo a cargo do pianista e compositor Mozart Gondim Ribeiro, tio dos estimados amigos Humberto, Heitor Filho, Haroldo e Heloisa Diogo Ribeiro, frequentado por expoentes da cidade, como Prof. Raimundo Gomes de Matos, Quintino Cunha, Dolor Barreira, Olinto Oliveira, Heribaldo Costa, Álvaro Costa, Des. Leite Albuquerque, Lauro Maia, Des. Ubirajara Caneiro, boêmio e poeta Cid Neto. Era um imponente edifício de 4 (quatro) pavimentos que pegou fogo na década de 40; após a demolição, funcionou a Loja de Variedades, e, Lojas 4.400, hoje Lojas Riachuelo e Duda´S Burger; Farmácia Oswaldo Cruz - de propriedade de Edgar Rodrigues; no andar superior da Farmácia Oswaldo Cruz - o escritório por mais de 50 (cinquenta) anos, de um dos mais brilhantes e atuantes advogados do Ceará, Olinto Oliveira (pai do meu amigo Olinto Filho).

Com ele trabalhavam, os ilustres causídicos - Professor Walmir Pontes, Professor Álvaro Costa, e os advogados Oscar Pacheco Passos e Moacir Oliveira, esse imóvel pertencia à D.ª Pierina Hinko; vizinho, uma casa térrea de 2 (duas) portas - O Foto Sales, de propriedade do Sr. Tertuliano Sales, mais tarde de seus sucessores.

Retrato do pitoresco

Em imóvel de igual formato de rótula - a famosa Garapeira "Mundico", com refresco de pega-pinto, aluá, e, capim- santo, murici, jenipapo, cajá-imbu, cajá, caldo de cana, cajuína, tamarindo, coco babão, refresco de ervas "quebra pedra" e "vassourinha", muito procurado pelos visitantes da nossa cidade por ser medicinal.

Em tempos mais recuados, a mais famosa garapeira do "Bem-Bem", especialista na excelente bebida conhecida por "jinjibirra" ou "gengibirra", muito apreciada por todos os fortalezenses, fermentada, feita de frutos, gengibre, açúcar, ácido tartárico, fermento de pão e água, conhecido no nordeste como champanhe-de-cordão, cerveja-de-barbante. Talvez fosse melhor escrita gengibirra, e que celebrizou o extrovertido "Bem-Bem". Vizinho ao Mundico, estava o Armarinho do Orion, com vendas de meias, gravatas, lenços, suspensórios, cintos, dentre inúmeros objetos masculinos.

Ainda no mesmo quarteirão da rua Major Facundo - a mais célebre farmácia da cidade a antiga Farmácia do Boticário Ferreira assomava.

Anúncio de uma era

Destacava-se ainda, o Cine Moderno, da Empresa Severiano Ribeiro, com sua rica e esplendorosa marquise variegada, com cristal colorido das mais vivas cores, no formato de meia concha ou cauda de pavão, dava toque de elegância e imponência à entrada daquele cinema, depois lojas Samasa, de propriedade de Sebastião Arrais; depois Sapataria Nova e Clínica de Olhos Rosangela Francesco.

Na esquina da rua Major Facundo, com a rua Liberato Barroso de um lado, existiu, nas décadas de 40/60, o Café Sport, dos irmãos gêmeos José e Estevam Emygdio de Castro, muito estimados por todos que os conheciam, foram meus patrões na firma Emygdio & irmãos, hoje a Lojas Esquisita, do Sr. Pio Rodrigues. Eis apenas o início de um longo caminhar pelo passado de nossa cidade.

FIQUE POR DENTRO
PRAÇA DO FERRERIA

A Praça do Ferreira - um dos mais conhecidos e cantados logradouros de nossa cidade; mas, também, um espaço que já sofreu, ao longo dos anos, inúmeras intervenções - é uma homenagem prestada ao boticário Ferreira, Antonio Ferreira Rodrigues. Ele nasceu em Vila Real da Praia Grande, hoje cidade de Niterói, filho de Antônio Rodrigues Ferreira e de D. Marcolina Rosa de Jesus.

Chegou ao Ceará em 1825, ano terrível de seca, trazido pelo comerciante Antônio Caetano de Gouveia - cônsul de Portugal. Tinha alguns conhecimentos práticos de farmacologia, obtida na sua terra natal.

Suas receitas salvaram dum parto difícil a mulher de seu generoso protetor, que o ajudou a obter da junta medica de Pernambuco, licença para montar botica e se estabelecer no trecho da antiga rua da Palma - Rua Major Facundo lado poente, por alguns anos Farmácia Boticário Ferreira, local depois ocupada pela Farmácia Galeno - Farmacêutico Yoyô Fonseca - Joaquim Studart da Fonseca, filho do Sr. João da Fonseca Barbosa e D. Leonisa de Castro Studart da Fonseca - Yayá Fonseca, irmã do Barão de Studart - Guilherme William Studart, nas mediações da loja Marisa e Farmácia Avenida.

Fonte: Jornal Diário do Nordeste

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