segunda-feira, 24 de maio de 2010

O Abrigo Central


Abrigo central: à época funcionava como um verdadeiro ponto de convergência da cidade, reunindo, em seu espaço, diversas classes sociais
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Por muitos anos seguidos, o Abrigo Central foi foco de atração dos fortalezenses. Em meio a seus espaços, transitavam vários tipos de pessoas negociando, passeando e apanhando ou coletivos para diversos bairros da nossa Cidade. Talvez para suprir a retirada dos bondes, carros de empresas estrangeiras de transportes coletivos passaram a explorar o mesmo o ramo, com a finalidade de substituir o transporte que durante mais de cinquenta anos foi utilizado pelos citadinos de nossa cidade, quase sem memória

Assim foi se dilapidando sem que tivesse menor cuidado que estava a serviço daquele "comboio", de uma população que crescia a olhos vistos, com ares de metrópole, deixando sem assistência e conservação o que deveria ter perdurado muito mais, para aniquilar com nostalgia dos velhos tempos que passaram com lembranças imorredouras, para quem tanto se utilizou daqueles carros que corriam sobre trilhos trepidando, controlado pelos pés do motorneiro. Para fazer parar o carro, ele se utilizava da manivela impulsora, dando partida rumo aos diversos locais, hoje bairros tão famosos.

Com correr do tempo todos os prédios que compunham a ala norte da Praça do Ferreira foram derrubados. Esta demolição deu lugar ao terreno onde foi edificado o Abrigo Central de Fortaleza, na gestão do Prefeito Acrísio Moreira da Rocha - isto na década de 50 do século passado.

O ponto de partida

Naquele espaço retangular do terreno formado pelas ruas Guilherme Rocha, Pará, Floriano Peixoto e Major Facundo, foi construído o Abrigo Central, iniciativa do então Prefeito Acrisio Moreira da Rocha. Era um local onde se agrupavam políticos, torcedores de futebol e pessoas que ali se dirigiam para apanhar ônibus de vários bairros, e linhas que circulavam a Cidade, pela Empresa São Jorge, com destino a Praça São Sebastião (Mercado) depois Praça Paula Pessoa (Ruas Justiniano de Serpa, Dom Jerônimo) - Farias Brito, cujo local existiu o tradicional Jardim São José, mais conhecido como Jardim Japonês, da família Fujita, dos meus amigos - João Batista, Nisabro, Edmar, Francisco (Chico), Luzia e Maria José que injustamente sofreram opressões com o "quebra-quebra" no tempo da 2ª Guerra Mundial de 1944.

Com a demolição da quadra da Praça do Ferreira (lado) do prédio da Intendência e demais casas comerciais (entre as ruas Floriano Peixoto e Major Facundo), na gestão do Prefeito Acrísio Moreira da Rocha, foi construído em 1949 - o Abrigo Central, num espaço da metade da quadra, entre a Rua Pará e Guilherme Rocha.

Dos departamentos

Lá se instalaram vários boxes, tendo o centro, formato de meia lua, onde foram colocadas cadeiras, especialmente para servir de engraxataria; pelo lado direito, havia um boxe para venda de selos mercantis, bilhetes de Loteria Federal, Estadual, estampilhas, os quais eram colocados para aferição pela Secretaria da Fazenda nos livros próprios (mensalmente) e outros selos para requerimentos dirigidos às repartições federais, estaduais e municipais; em seguida o boxe do Café Hawaí; Café Presidente e o Café Wal-Can; um boxe da Livraria Alaor; casas de discos conhecida como Discolândia e os boxes portáteis do Sr. Bodinho, do Sr. Raimundo e do Sr. Holien com variadas mercadorias; no lado esquerdo da Rua Pará - O Posto de carros de aluguéis - Posto Pará da Sra. Odete Porfírio Sampaio, com luxuosos carros de passeio que eram contratados previamente para sepultamento, casamento e batizados; e o preço obedecia a uma tabela especial, estabelecido com o Sr. Maninho Câmara.

Ainda no hall do Abrigo - o celebre e inesquecível "Pedão da Bananada" e os famosos sanduíches , cognominados "espera-me no Céu", "cai duro", comprando um dá direito envelope de Sonrisal, vitamina "KH" na hora; existia um funcionário especialista no ramo de merendas de frutas, Sr. Musse - pai do Dr. Musse; no final do corredor do Abrigo, o Café Hawaí; ao lado garapeira do Sr. Peixoto, pai dos amigos Genário e João Peixoto, cuja venda de guaraná (artificial), água mineral com e sem gás, groselha, limonada muito apreciada por todos que frequentavam o Abrigo Central. Ainda pelo lado da Praça do Ferreira, a parada de ônibus da Empresa São Jorge - Kalil Otoch, as linhas do centro, Soares Moreno, Praça São Sebastião, Cemitério, D. Jeronimo, Justiniano de Serpa, que muito facilitava a vida dos que moravam no centro - uma realidade muito diferente da vive nos dias de hoje, com tantas transformações que sofreu a arquitetura de nossa cidade.

As mãos do progresso

Em 1969, a Prefeitura de Fortaleza tendo à frente o Prefeito - engenheiro José Walter Cavalcant - tomou a iniciativa de mandar demolira primitiva Praça do Ferreira, construindo outra que não teve boa aceitação por parte dos fortalezenses por ser de esquisita arquitetura. Com a demolição da antiga Praça do Ferreira, houve uma divisão, modificando a parte norte da praça, compreendendo o início da Rua Guilherme Rocha. Aí funcionaram o prédio da Intendência e diversas lojas de armarinhos, dando, agora, lugar ao famoso Abrigo Central. A administração do então Prefeito Acrísio Moreira da Rocha, anteriormente eleito pelo voto popular em 1947 e, depois, em 1955 quando imprevidentemente assinou decreto demitindo quinhentos (500) funcionários do município o que causou muito repúdio aos funcionários do município.

Na segunda gestão do prefeito Acrísio Moreira da Rocha, foram retirados de circulação todos os bonde da Capital, dando lugar ao uso do transporte do ônibus para diversos bairros, cujas linhas denominadas Benfica estacionavam numa alameda leste da praça, na mesma direção os ônibus do Prado, Jacarecanga, cujo proprietário Sr. Oscar Pedreira os matinha sob vigilância, por conta dos vandalismos de certos alunos do Liceu do Ceará, que não poupavam os veículos das mais cruéis danificações:os assentos de couro sob giletes. O proprietário Sr. Oscar Pedreira levava o tempo todo a fiscalizar os ônibus, procurando flagrar os alunos mais peraltas que praticavam tais atitudes prejudiciais ao patrimônio, defendendo a ponto de se envolver com o uso de aplicação de corretivos contra a insubordinação da estudantada, que após se livrarem do proprietário, entoavam canções em tom pilhérico e, também, agressivo.

ZENILO ALMADA
COLABORADOR*
* Advogado

FIQUE POR DENTRO
O Abrigo na cidade

Com a construção do Abrigo Central, novas linhas de ônibus da Empresa São Jorge, da família Otoch, passaram a fazer uso de linhas que circulavam pelo centro da cidade, como os ônibus Soares Moreno, Farias Brito, Igreja da Nossa Senhora das Dores, Justiniano de Serpa, Cercado José Padre, D. Jerônimo. Quem vinha de diversos locais ou residências, ao descer no Abrigo Central, era como quem chegasse alheado. Lá se deparava com aglomerado por grande número de pessoas que por ali se dirigia para iniciar o bate-papo. As segundas-feiras tinham início com a calorosa manifestação de torcedores de time futebol, num alarido ensurdecedor quando os comentários se relacionavam com os principais clubes de nossa Fortaleza. Se o jogo se relacionava com peleja entre Fortaleza, Ceará, Ferroviário, Gentilândia, parecia que o Abrigo viria abaixo, com tanto entusiasmo por parte dos apostadores dos times ou torcedores ferrenhos, a ponto de haver brigas entre os mesmos. E tudo terminava com algazarra ainda maior, porque ali era local de encontro dos desocupados ou quem marcava encontros de negócios.

Fonte: Jornal Diário do Nordeste

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