terça-feira, 3 de novembro de 2009

Da Praça José de Alencar até os espaços da Lagoinha



Em direção ao oeste, segue a Praça José de Alencar ou Praça do Patrocínio, em homenagem a imagem de Nossa Senhora do Patrocínio, da Igreja do Patrocínio, cuja imagem foi presente do ilustre português, meu bisavô, Joaquim Dias da Rocha, trazida de Portugal, cuja entronização se deu quando o pároco Padre Barbosa.

Relíquias do lugar

Seguindo a rua General Sampaio, em direção à rua Guilherme Rocha, há várias casas residenciais antigas; a oficina de obras de artes do italiano exímio escultor, Sr. Vicente Raya; Dr. Edmundo Monteiro Gondim; Família Guedes; Família Justa; e, na esquina da rua Guilherme Rocha, o maior ponto de atração para os apaixonados por músicas - "Bar Americano" de propriedade do Sr. Pedro Benício Sampaio, famoso por seu caldo de cana com pastel feito na hora, aluá, canjica e pamonha, tapioca e pão doce. No outro lado, esquina da rua General Sampaio e rua Guilherme Rocha - Antiga rua do Ouvidor (lado nascente), assoma um pequeno edifício, onde funcionou a Caixa dos Ferroviários, que durante longos anos serviu como pagadoria das pensões às viúvas dos ferroviários.

Em frente, na outra esquina, um casarão que serviu de residência do Governador do Estado, sede do Ministério do Trabalho, IAPAS, INPS, INSS, hoje Centro de Saúde José de Alencar. Seguindo pela rua Guilherme Rocha, a Igreja do Patrocínio; vizinho, antes de alcançar a esquina da rua 24 de maio, um sobrado onde residiu o Sr. Joaquim Barbosa Maia, irmão do Sr. Lopicínio Maia, donos da Garapeira que vendia especial gengibirra na rua 24 de maio esquina com rua São Paulo; vizinho ao sobrado, a mercearia de um senhor, conhecido por Dente de Ouro, na esquina da rua Guilherme Rocha com 24 de Maio, hoje Farmácia Patrocínio. Frente à mercearia do Sr. Dente de Ouro, existiu o prédio que serviu de residência do Governador Acioli, depois Fênix Caixeral, Lojas Brasileira, hoje Shopping Metrô.

Folhas de calendário

Pelo outro lado da rua 24 de Maio com rua Guilherme Rocha, a Escola de Datilografia da Sra. Nenen Lopes, irmã do Desembargador Daniel Lopes, cujo prédio tinha um sótão com várias janelinhas, descaracterizava o andar superior, dando as janelinhas impresso de vigílias. Indo pela rua 24 de Maio (lado da sombra), em direção à rua Liberato Barroso, várias residências de pessoas gradas da época, como as famílias: Mamede, Ari Maia Nunes, José Walter Cavalcante, as célebres professoras de línguas - Adelaide e Ifigênia Amaral, filhas de abastados portugueses, cujas aulas eram ministrada pelas mesmas na própria residência, predominando os idiomas inglês, francês e espanhol.

De conversa em conversa

No mesmo lado, destaca-se ainda a residência do Dr. Thomas Pompeu Gomes de Matos e Maria de Jesus, que cultivava a mais seleta e concorrida reuniões de calçada, onde para lá se reunia a fina flor da sociedade fortalezense, por ser também agradável o "papo" levado a efeito na "roda da calçada" que contava sempre com a presença dos doutores Araken Carneiro, Suzete, Vicente Silva Lima, Ari Maia Nunes, Prof. Gomes de Matos, Clodomir Girão; e, na esquina da rua 24 de Maio com rua Liberato Barroso, o prédio do Sr. Mazine, proprietário do Posto de Automóveis Mazine e da primeira concessionária da Gás Butano, após, transferido ao Sr. Edson Queiroz, que impulsionou esse portento econômico. Todos esses imóveis foram demolidos para dar lugar ao famoso "Beco da Poeira", local para comércio e de vendedores ambulantes. Agora voltemos ao lado da Praça José de Alencar, esquina da rua 24 de Maio com rua Liberato Barroso, imóvel de propriedade do empresário Pedro Philomeno Ferreira Gomes, depois deu lugar ao Lord Hotel, considerado o primeiro edifício residencial de Fortaleza dos anos cinquenta.

A Praça José de Alencar também foi palco de grandes manifestações públicas, comícios presidenciais, concentrações religiosas, pregações evangélicas, feira de amostra, Parque Shangai com o famoso "tira prosa", que consistia numa grande haste de ferro com dois barcos acoplados no meio desta, onde acomodavam dois (2) casais em cada lado (espécie de barco), arremessando em direção do alto, até emparelhar-se fazendo ligeira parada no alto, o que causava grande suspense aos participantes da brincadeira, por sentir mal-estar, provocando vômitos, frouxidão urinária aos menos avisados e tonturas aos mais espertos cuja duração era de uns cinco minutos, assim aproximadamente.

Praça da Lagoinha

Praça seguinte, em direção do bairro Jacarecanga, era a Praça da Lagoinha - assim chamada por ter ali existido um pequeno lago. Nas esquinas das ruas Guilherme Rocha e Tristão Gonçalves, existiram as Serrarias Viana e a do Sr. Alfredo Lopes; vizinho em direção À rua Guilherme Rocha, casas de gradas famílias - Sr. Raimundo Arruda - "Arrudinha", casado com D. Irene Barbosa Arruda, educadora laureada e Diretora da Escola Normal Justiniano de Serpa. Também ali residia a família do Sr. Clóvis Medeiros e mais tarde as irmãs professoras Adelaide e Ifigênia Amaral, poliglotas conhecidas na Cidade, pela exuberância do aprendizado linguístico, guardando distância ou prevenidas contra seus alunos, porque sabiam do seu grau de talento cultural.

Chegando à esquina da rua Guilherme Rocha com Avenida do Imperador (lado do sol), funcionou a mercearia do Sr. Antônio Bandeira de Moura, composta de uma família de cantores nacionalmente conhecidos, como as irmãs vocalistas Cleide e Adamir Moura e os cantores Carlos Augusto Moura e Henrique Moura, depois se instalou a "Padaria Ideal" dos português J. Neto Brandão - Jaime, João e Jorge.

Chácaras e chistes

Na outra esquina da rua Guilherme Rocha com Avenida do Imperador (lado da sombra), via-se a casa do médico de renomeada Newton Gonçalves, depois Hotel Imperador. Atravessando a rua Guilherme Rocha na outra esquina, a Farmácia São Francisco; seguindo pela Avenida do Imperador em direção à rua Liberato Barroso, a aprazível chácara do Dr. Eduardo Henrique Girão, casado com a Sra. Maria de Jesus Dias da Rocha, filha do comerciante português Frederico Dias da Rocha e Maria Umbelina Pontes, sem filhos.

Ao lado, a residência da professora de inglês - Miss Sanders; Casa de Luzanira Franco e seu pai Sr. Franco; residência do Sr. Antonio Galdino e vários filhos, sendo aproximadamente nove (9) filhas e um (1) filho, conhecido pela alcunha de Bebê Chorão e, por não terem sido contemplados pela beleza, a meninada inventou a seguinte quadrinha, e ao se aproximarem da casa começavam evocados assim o verso, aqui em destaque: (Texto I)

Na entrada que dava acesso à Casa de Saúde Dr. César Cals, existiu um grande nicho bem emoldurado, onde era vista a imagem de tamanho natural de São Francisco de Assis, cuja redoma resguardava a imagem e no solo, em recanto próprio os fiéis que diariamente acendiam velas, prostrando-se aos pés da imagem, rezavam contritamente, faziam seus rogos, pedindo perdão pelos pecados e imploravam graças.

Quem se dirigia à Casa de Saúde para visitar os doentes, fazia suas orações em favor dos enfermos ali internados. Era uma verdadeira demonstração de fé e penitencia no Santuário de São Francisco da Casa de Saúde Dr. César Cals, onde a devoção símbolo maior da cristandade tomava inabalável lugar no espírito de cada um, numa prova de obediência ao Pai Celestial.

Presença do sagrado

Assim Fortaleza mantinha aquela fidelidade e respeito aos ritos e costumes católicos. Por ser mesmo provinciana, podiam ser vistas as pessoas, que volteavam a Praça da Lagoinha, obedecendo aos círculos formados, onde podiam transitar três camadas de frequentadores.

Tudo a começar pelo primeiro circulo das senhoritas da sociedade que por lá faziam seu desfile em companhia de amigos onde também se marcava encontro para os apaixonados rapazes que iam até lá para tirar "linha" como era conhecido o que se chama "paquera" para culminar em namoro.

Vida provinciana

Na segunda alameda ou círculo os rapazes ficavam de pé, observando a passagem das moçoilas para lhes dirigir galanteios e iniciar uma aproximação para entabular uma "lera" e sentarem nos bancos da avenida para ouvir os dobrados das orquestras da guarda policial, que harmoniosamente dos coretos soltavam os mais variados sons de evocações e saudações feitas por militares, como epopeia de vitórias e de glórias dirigidas ao futuro.

TEXTO I

Na avenida do Imperador,

Não passa mulher sem homem

As filhas do Antônio Galdino

Estão virando lobisomem

E na pisada, tum, tum, tum!

FIQUE POR DENTRO
JOSÉ DE ALENCAR
A Praça José de Alencar é uma homenagem ao escritor, advogado, deputado e ministro cearense José Martiniano de Alencar, um dos expoentes do Romantismo. Sua estátua, localizada no centro da praça, foi iniciativa do escritor e enxadrista Gilberto Pessoa Câmara, irmão de Eduardo Câmara, Maria Câmara (Maroquinha), religiosa Irmã Estefânia da ordem das capuchinhas; Mardonio Câmara, Nair Câmara, e Dom Helder Câmara. Entre as ruas 24 de Maio, General Sampaio, Guilherme Rocha e Liberato Barroso - onde está localizado o Teatro José de Alencar, fundado em 1910, com estrutura metálica importada da Escócia - do lado, esquina das ruas Liberato Barroso com Guilherme Rocha, existe um jardim projetado pelo paisagista Burle Marx, anteriormente era o Centro de Saúde do Estado do Ceará, ocupando grande parte da rua General Sampaio (lado da sombra), onde tiveram inicio os principais consultórios médicos no próprio Centro, para diagnosticar as diversas doenças que se podia acometer. Naquela época a medicina por sua natural precariedade, guiava-se pela intuição da própria doença.

Fonte: Jornal Diário do Nordeste

A paisagem urbana e o quadro social



Na direção da rua Guilherme Rocha para o bairro Jacarecanga, estava a Praça Fernandes Vieira ou Praça do Liceu - hoje presta honrosa homenagem ao grande mestre - o imortal Gustavo Barros o a quem cabe a honraria do nome da Praça.

De lá eram vistas as mais elegantes residências da época dos anos 20 a década de 80.Na entrada ao lado do Liceu, a Corporação do Corpo de Bombeiros, que dá início a rua Oton de Alencar - vizinho o antigo Grupo Juvenal Galeno e Faculdade de Ciências Econômica

Havia aí a residência do Prof. Domingos Braga Barroso, ex-diretor do Liceu, dono de uma escolinha que funcionava em sua própria residência.

Da rua Oton de Alencar até a rua Guilherme Rocha, viam-se vários palacetes luxuosos, cujas originalidades diversificadas seguia o estilo pessoal do grande arquiteto - Dr. Emilio Hinko (húngaro de nascimento), que marcou sua personalidade artística com belos bangalôs, chegando a construir dentre outros o Excelsior Hotel, único prédio de seis andares construído genuinamente de alvenaria com vigas de trilho de ferro que garantem até hoje a segurança do Edifício Excelsior.

Esse edifício serviu por muitos anos como hotel - Excelsior Hotel, salão de visita para grandes personalidades que aqui aportavam para gerir as mais variadas missões de negócios, culturais, artísticas, cantores, políticos, religiosos ou qualquer atividade a ser tratada por pessoas de alto apreço.

Por último abrigou por longos anos de residência do casal - Pierina e Emilio Hinko, transferindo a residência do casal para Av. Antonio Justa, próximo à Beira-Mar, com a canção de suas ondas em espumas.

Na Praça Gustavo Barroso, antiga Praça Fernandes Vieira e Liceu, esquina da rua Oton de Alencar e rua Guilherme Rocha, existia a casa do Sr. Cecil Salgado. Vizinho pela rua Guilherme Rocha a Capelinha e Externato Jesus Maria José, ambos com os mesmos nomes.

Tecendo minúcias

Em frente à casa do Sr. Cecil Salgado, na outra esquina era residência de Bruno Miranda; vizinho funcionou o Hospital São João, hoje Instituto Nacional do Seguro Social - INSS; chegando na esquina da rua Guilherme Rocha esquina com a Av. Philomeno Gomes, residência do Dr. Pedro Sampaio, avô da nossa ilustre jornalista Regina Marshall.

Em frente à casa do Dr. Pedro Sampaio, existia o casarão do Sr. Pedro Philomeno Ferreira Gomes, hoje Edifício Pedro Filomeno; do outro lado, na Av. Philomeno Gomes em direção a rua Carneiro da Cunha, existia a residência do Dr. Luis Moraes Correia, depois Serviços de Irrigação Federal; vizinho, residência do ex-governador Dr. Luis Flávio Marcilio; mais adiante, a família Duarte Vidal; e, outras residências, até alcançar a entrada principal do internato Bom Pastor.

Praça dos Mártires

É considerada uma das principais praças de Fortaleza. Em 1940, foi reformada nos moldes do Passeio Público do Rio de Janeiro, no estilo neoclássico. A Praça dos Mártires, seu nome atual, é tombada como patrimônio histórico nacional. Situado entre as ruas Barão do Rio Branco, Dr. João Moreira e Floriano Peixoto, ao lado do Forte de Nossa Senhora de Assunção - Comando da 10ª Região Militar.

Para lá se dirigiam gradas famílias, para assistir às retretas que levavam a efeitos nas diversas praças sob o Coreto no recanto da mesma, onde os músicos das guarnições da Polícia Militar, Exército e Aeronáutica, se revezavam semanalmente para as tradicionais retretas.

De olhar em olhar

O Passeio Público foi a primeira praça a promover tais eventos, onde moças e rapazes marcavam seus encontros para iniciar a manifestação e apreço com olhares, acompanhando os passos dos jovens que rodeavam as primeiras alas dos passeios, depois de longos e persistentes cumprimentos perguntavam se poderiam acompanhar para dar umas voltas em redor da praça. A permissão por parte da jovem era abertura em favor do jovem que poderia, daí, tomar uma admiração no começo de namoro, mas só teria o consentimento após dizer qual a família, de quem era filho, parente, seus hábitos, enfim, dar a linhagem familiar e ser submetido ao crivo da família.

Por ser a praça lugar de destaque, todos se vestiam a caráter para o ambiente. Os homens trajados de chapéu de palhinha, veludo, chapéu cubano, paletó de caruá, sapato bico-fino de cor branco ou telha, marca Polar, Belmont, Clarck, Scatamaki ou verniz de cor preto com salto carrapeta, de couro de bezerro alemão, de couro de cobra e jacaré, vendido na sapataria Clarck, vizinho a Leão do Sul, depois sapataria Belém da família Capelo. Tudo isso fazia um sucesso nos salões dos clubes Iracema, Diários, quando exibiam seus trajes de paletó branco S-120, almofadinha, jaquetão e combinado preto e casimira creme.

Da arquitetura

Nos quarteirões (quadra) da rua Dr. João Moreira (antiga da Misericórdia) entre as ruas Floriano Peixoto até Barão do Rio Branco, havia as elegantes residências, a começar pelo do cônsul da Inglaterra Sr. Charles Matheus e D. Helena, filhos, a família Liebmann, a casa de n.º 243 do Sr. João Torres Câmara Filho, onde nasceu Dom Helder Câmara, família Bulhões Ramos, casa de aprimorada fachada pintada de vermelho escarlate, ricamente elaborada em alto relevo, cujas exuberantes esfinges em forma de arabesco, contrastada pela cor, prendia a atenção das pessoas que por ali passavam admirando aquela majestosa fachada, cujos degraus da escada da entrada principal, feita de especial mármore da codade de Carrara, davam aspecto senhoril, denotando diferença a da fachada e platibanda das demais casas daquela quadra.

Praça dos Leões

Entre as ruas General Bezerril, São Paulo, Conde D´Eu e em frente a mais antiga igreja de Fortaleza, Igreja do Rosário, localiza-se a Praça General Tibúrcio, cujo centro se encontra o columbário dos restos mortais desse general, onde se conserva ad eternum a homenagem aquele brilhante militar no largo ou pátio do Palácio do Governo, posterior a 1856.

É conhecida popularmente pelo nome de "Praça dos Leões" pelos monumentos em forma de leões que fazem parte de sua ornamentação. Anos atrás foi conhecida por "Praça do Artista", do "Artesão", por tentativa valida da Secretaria de Cultura de transformar um dos recantos da Praça em ponto de reunião da classe dos artistas e artesãos, ideia que não surtiu qualquer efeito.

Hoje, no pátio da Igreja do Rosário, ao lado da Academia Cearense de Letras, por iniciativa da Secretaria de Cultura do Estado, encontra-se sentada em um banco da praça a estátua da grande imortal, escritora Rachel de Queiroz, a mais alta e significativa expressão da literatura brasileira, de grande força narrativa.


O Bom Pastor: resquícios dos valores morais de uma época

No internato Bom Pastor, de entrada sombria, se refugiavam as pessoas que tinham desviados suas condutas. Aí eram lançadas, para não causarem vergonha à família, até chegarem ao esquecimento da sociedade, mas que a boca miúda segredava sigilosamente todo fato ocorrido, tudo proferido sob forma de "cochicho" ou "ao pé de ouvido", evitando que se propalasse ou transpirasse o desvirginamento de alguma moça que dera um "passo errado" - e deveria s ser punida, sob forma de expurgo para reparar o horroroso e repugnante cometimento de desonra, ultrajando ou maculando o bom nome da família, nome este a ser reparado, muitas vezes pagando com a própria vida.

Depois, com o passar do tempo, as internas do Bom Pastor, já purgada a culpa, aprendiam, sob orientação das irmãs religiosas, ofícios domésticos, como bordar, costurar e outras atividades normais. Saíam para enfrentar a sociedade como quem saía do presídio após ter pago a pena por "mal cometido"; muitas vezes, quando mães, amais poderiam transpirar quem eram os pais da criança para não manchar ainda mais o nome da família. As moças se cobriam de roupa preta, lenço na cabeça, e, nas ocasiões das missas, teriam que usar véu no rosto, encobrindo a face.

Fonte: Jornal Diário do Nordeste

Fortaleza: uma cidade e suas praças



Vale a pena recordar nossa querida Fortaleza dos tempos que já se foram, deixando em cada um que acompanhou, vivenciou, sentiu e soube desfrutar momentos que enchiam o coração de prazer, essa satisfação vinda do íntimo de cada um de nós amantes da terra da Luz. Caminhar pelas ruas do passado, descrevendo-as, com suas praças e monumentos, usos e costumes, eis o motivo - a viagem - central dessa edição.

AH! FORTALEZA QUE VIVI NOS TEMPOS QUE JÁ SE FORAM DEIXANDO APENAS LEMBRANÇA, E, PODER AGORA, COM OLHAR VOLTADO AO PASSADO, MAREJANDO OS OLHOS, SENTINDO A ARDENTE SAUDADE OFEGANTE NO PEITO O VAZIO DOS VIVIDOS INSTANTES DO DIA A DIA NUMA METRÓPOLE ONDE QUASE TODOS SE CONHECIAM E PARTICIPAVAM DAS MESMAS EMOÇÕES QUE GARANTIAM O SENTIMENTO INFORME DOS SEUS HABITANTES.

Os suspiros do eu

Ah! Tempos passados! Que lembranças não se apaguem dentro de cada um - e que continuem no escaninho de um passado não tão remoto - para que possam ainda transmitir um pouco do animado, acompanhando e fazendo nostalgia nessa urbe de hoje, transformada em grande metrópole! Que deixe esvair pelo passar dos tempos velhas lembranças que ainda se aninham junto ao peito, impedindo a invasão do inimigo - Alzheimer - para que dele não se apodere inesperadamente, invadindo-o esse cabedal intransferível e inalienável.

Cores e sons

Da Fortaleza de outrora ficou a imagem da beleza das antigas ruas e avenidas: os canteiros centrais, divididos por frondosos oitizeiros, que nos abrigavam, com suas sombras, amenizadas pelos ventos que sopravam enfurecidos, com luar prateado nas noites, penetrando por entre os arvoredos, projetando estrelas que tapetavam o chão chapiscado de luz da lua, até o amanhecer do dia, despertando os pássaros, nos ninhos de tenra plumagem. Assim, Fortaleza acordava, risonha, embalada pelos maviosos cantos dos pássaros e do repetido do trinado gorjeio no alto das frondosas árvores.

Praça do Ferreira

Essa é uma quadra a começar pelo lado poente da rua Major Facundo, com rua Guilherme Rocha, em direção da rua Liberato Barroso. Bem na esquina, ficava o Café Riche, depois a Loja Broadway, do Sr. Alberto Bardawil, depois loja Tok Discos. Vizinho, com uma porta estreita, funcionou um armarinho, para venda de gravatas, camisas, lenços, canetas e relógio, depois Rei das Canetas.

Cruzando ruas

A seguir as Lojas Sloper (filial do Rio de Janeiro), depois Banco Mercantil do Brasil. Depois, vinha o Cine Polytheama, dos irmãos Rola, hoje Cine São Luís, geminado ao prédio que serviu de escritório da Empresa Ribeiro, de propriedade do Sr. Luis Severiano Ribeiro, hoje com rua lateral dando acesso à rua Barão do Rio Branco.

Mais adiante a Pharmacia Pasteur - Estabelecimento Eduardo Bezerra, hoje lojas Marisa e Farmácia Avenida; ainda o antigo Cine Majestic e Bar, com cadeira de pés de ferro e pequena mesa de mármore, com música ao vivo a cargo do pianista e compositor Mozart Gondim Ribeiro, tio dos estimados amigos Humberto, Heitor Filho, Haroldo e Heloisa Diogo Ribeiro, frequentado por expoentes da cidade, como Prof. Raimundo Gomes de Matos, Quintino Cunha, Dolor Barreira, Olinto Oliveira, Heribaldo Costa, Álvaro Costa, Des. Leite Albuquerque, Lauro Maia, Des. Ubirajara Caneiro, boêmio e poeta Cid Neto. Era um imponente edifício de 4 (quatro) pavimentos que pegou fogo na década de 40; após a demolição, funcionou a Loja de Variedades, e, Lojas 4.400, hoje Lojas Riachuelo e Duda´S Burger; Farmácia Oswaldo Cruz - de propriedade de Edgar Rodrigues; no andar superior da Farmácia Oswaldo Cruz - o escritório por mais de 50 (cinquenta) anos, de um dos mais brilhantes e atuantes advogados do Ceará, Olinto Oliveira (pai do meu amigo Olinto Filho).

Com ele trabalhavam, os ilustres causídicos - Professor Walmir Pontes, Professor Álvaro Costa, e os advogados Oscar Pacheco Passos e Moacir Oliveira, esse imóvel pertencia à D.ª Pierina Hinko; vizinho, uma casa térrea de 2 (duas) portas - O Foto Sales, de propriedade do Sr. Tertuliano Sales, mais tarde de seus sucessores.

Retrato do pitoresco

Em imóvel de igual formato de rótula - a famosa Garapeira "Mundico", com refresco de pega-pinto, aluá, e, capim- santo, murici, jenipapo, cajá-imbu, cajá, caldo de cana, cajuína, tamarindo, coco babão, refresco de ervas "quebra pedra" e "vassourinha", muito procurado pelos visitantes da nossa cidade por ser medicinal.

Em tempos mais recuados, a mais famosa garapeira do "Bem-Bem", especialista na excelente bebida conhecida por "jinjibirra" ou "gengibirra", muito apreciada por todos os fortalezenses, fermentada, feita de frutos, gengibre, açúcar, ácido tartárico, fermento de pão e água, conhecido no nordeste como champanhe-de-cordão, cerveja-de-barbante. Talvez fosse melhor escrita gengibirra, e que celebrizou o extrovertido "Bem-Bem". Vizinho ao Mundico, estava o Armarinho do Orion, com vendas de meias, gravatas, lenços, suspensórios, cintos, dentre inúmeros objetos masculinos.

Ainda no mesmo quarteirão da rua Major Facundo - a mais célebre farmácia da cidade a antiga Farmácia do Boticário Ferreira assomava.

Anúncio de uma era

Destacava-se ainda, o Cine Moderno, da Empresa Severiano Ribeiro, com sua rica e esplendorosa marquise variegada, com cristal colorido das mais vivas cores, no formato de meia concha ou cauda de pavão, dava toque de elegância e imponência à entrada daquele cinema, depois lojas Samasa, de propriedade de Sebastião Arrais; depois Sapataria Nova e Clínica de Olhos Rosangela Francesco.

Na esquina da rua Major Facundo, com a rua Liberato Barroso de um lado, existiu, nas décadas de 40/60, o Café Sport, dos irmãos gêmeos José e Estevam Emygdio de Castro, muito estimados por todos que os conheciam, foram meus patrões na firma Emygdio & irmãos, hoje a Lojas Esquisita, do Sr. Pio Rodrigues. Eis apenas o início de um longo caminhar pelo passado de nossa cidade.

FIQUE POR DENTRO
PRAÇA DO FERRERIA

A Praça do Ferreira - um dos mais conhecidos e cantados logradouros de nossa cidade; mas, também, um espaço que já sofreu, ao longo dos anos, inúmeras intervenções - é uma homenagem prestada ao boticário Ferreira, Antonio Ferreira Rodrigues. Ele nasceu em Vila Real da Praia Grande, hoje cidade de Niterói, filho de Antônio Rodrigues Ferreira e de D. Marcolina Rosa de Jesus.

Chegou ao Ceará em 1825, ano terrível de seca, trazido pelo comerciante Antônio Caetano de Gouveia - cônsul de Portugal. Tinha alguns conhecimentos práticos de farmacologia, obtida na sua terra natal.

Suas receitas salvaram dum parto difícil a mulher de seu generoso protetor, que o ajudou a obter da junta medica de Pernambuco, licença para montar botica e se estabelecer no trecho da antiga rua da Palma - Rua Major Facundo lado poente, por alguns anos Farmácia Boticário Ferreira, local depois ocupada pela Farmácia Galeno - Farmacêutico Yoyô Fonseca - Joaquim Studart da Fonseca, filho do Sr. João da Fonseca Barbosa e D. Leonisa de Castro Studart da Fonseca - Yayá Fonseca, irmã do Barão de Studart - Guilherme William Studart, nas mediações da loja Marisa e Farmácia Avenida.

Fonte: Jornal Diário do Nordeste

Um canal de divulgação da politica, esporte, cultura e história do Ceará e do Nordeste.

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