domingo, 15 de fevereiro de 2009

A liberdade aconteceu ali - À sombra do tamarineiro



Pioneirismo. Na praça principal de Redenção, no maciço de Baturité, a 66 quilômetros de Fortaleza, o modesto monumento Rosal da Liberdade indica um dos mais importantes momentos da história do Brasil. Ali, no dia 1º de janeiro de 1883, à sombra de um tamarineiro, aconteceu a grande festa cívica que tornaria Redenção a primeira cidade do Brasil a libertar seus escravos. A poucos metros do Rosal da Liberdade, ao lado da praça, um prédio tombado pelo município abriga a Escola de Ensino Fundamental Padre Saraiva Leal. No local, a placa explica que, no lugar, se reuniam os abolicionistas dos movimentos Sociedade Libertadora do Aracapense e Sociedade Redentora Aracapense. Isso porque, antes, Redenção se chamava Acarape. Naquela época o movimento abolicionista tomava conta do Brasil, mas foi Redenção a primeira cidade a libertar seus escravos com a ajuda de ilustres abolicionistas, como José Liberato Barroso, general Antônio Tibúrcio, padre Guerra, Justiniano de Serpa, José do Patrocínio e João Cordeiro, que presenciarem, naquele 1º de janeiro, a alforria dos 116 escravos da Vila do Acarape. Mais alguns passos adiante e já se está na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Imaculada, onde é guardada como relíquia a pia batismal de irmã Clemência de Oliveira. Filha do município, ela está em processo de beatificação pelo Vaticano. Em Redenção, por onde se anda, o cheiro é de história. Não no sentido de coisa velha, ultrapassada. Mas na perspectiva de que se construa o futuro sem os erros cometidos no passado. Mais agora, com a instalação prevista, para início de 2010, da Universidade Federal de Integração LusoAfro-Brasileira (Unilab). A chegada do equipamento na região acontecerá justamente pelo simbolismo de ser a primeira cidade brasileira a abolir a escravatura. Entre os jovens, mais até do que o aspecto histórico, a chegada da Unilab representa principalmente a possibilidade da cidade ganhar mais importância e atrair a modernidade com a oferta de ensino superior na região e contribuir de forma estratégica para o fortalecimento da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Já se fala com otimismo da revitalização do comércio, da chegada de shoppings e de novos empreendimentos para atender a demanda dos 5 mil estudantes previstos quando a universidade vir a funcionar. Enquanto o projeto não se efetiva - não foi definido ainda o terreno onde a Unilab será instalada - a população de Redenção se alimenta da história e das tradições que formaram seu povo. Não só a praça principal serve de referência para o fortalecimento dessa cultura rica em simbologias. Pertencente a antiga província de Baturité, quando ainda se chamava Acarape, a cidade teve como seus primeiros habitantes os índios tapuias, que vieram de Jaguaribe para habitar as margens do rio Pacoti, que corta a região, formando-se então uma pequena comunidade que vivia da pesca e agricultura. Depois começaram a chegar alguns negros africanos que desembarcaram no Mucuripe e se espalhavam por muitos municípios do Ceará. Conta a história que este foi o primeiro núcleo de povoação para o surgimento do município. Parte disso pode ser contado no Museu Senzala Negro Liberto, instalado na Fazenda Engenho Livramento, de 1750. Ainda hoje o lugar abriga a fábrica de cachaça Douradinha. Nas instalações, os visitantes conhecem desde o processo de fabricação rudimentar do produto as instalações da casa grande preservada desde o século XVIII. Mas também revisitam o cativeiro degradante dos escravos com todas as características originais da época escravocrata, para que nunca mais a humanidade seja submetida a tal situação. Por tudo isso, em Redenção, seu povo pode se orgulhar. Afi nal, a liberdade aconteceu ali.

LUIZ HENRIQUE CAMPOS, da Redação

Fonte: Jornal O Povo

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