domingo, 15 de fevereiro de 2009

Cabeças-chatas que brilham, divertem e inventam. Lógica, humor, criação.



Um certo pendor para criatividade e para o estudo. Diz-se do cearense ser um vocacionado para as Ciências Exatas. Bons matemáticos, físicos, projetistas de aviões, engenheiros navais de primeira, ases na medicina de ponta, brilhantes que vencem concursos estudantis dentro e fora do Brasil. Some-se a isso humor, ironia, improviso, a tirada sacana, a arte de fazer graça ou rir de si mesmo. As duas virtudes juntas são o dom da criação, a inventividade. É quando a lógica segue ao lado do incerto e cria o novo, produtivo e competitivo. É dessa junção que sai o novo rumo. Foi de uma cabeça chata que o mundo pôde enfi m confi rmar como viável a alternativa do combustível vegetal. O planeta refém do combustível fóssil não sabia como sementes, folhas e grãos, que masserados se convertiam em óleo, poderiam mover engrenagens e fazer uma máquina sair do lugar. Ainda era 1977, século passado, e o inventor cearense Expedito Parente, então um jovem promissor com menos de 40 anos, fez a descoberta transformadora. Isso num tempo do Ceará atolado num estigma miserável de seca e fome, como se aqui só tivesse penúria. Três anos depois, o invento foi aberto a todos. Tranqüilo e bem humorado, o cientista hoje tem a patente do biodiesel, uma energia limpa já em franca produção no Brasil. De 4.630 barris entre março e dezembro de 2005, a produção saltou para 5.776.196 barris até outubro de 2008. São recordes após recordes desde então. A tecnologia é cobiçada pelos principais países e um dos principais trunfos da atual economia brasileira. Modestamente, Parente também criou o bioquerosene e a vaca mecânica. Já poderia estar descansando, mas que nada. Para breve, ainda promete um outro feito surpreendente, ainda em estudos, que por enquanto não pode revelar. Nesse ritmo desbravador, usando a lógica para chegar ao desconhecido, o Ceará segue sua empreitada também fazendo nanociência. Oficialmente, já desde 2001. O nano é um pedaço bilionésimo de um metro. É quase a menor parte antes do invisível. É uma área de atuação multidisciplinar, não um ramo específi co dos cientistas. Na Física, onde está mais próspera no Ceará, estuda-se a funcionalização em nanotubos de carbono e também em gracenos (partes ainda menores rasgadas desses nanotubos). "Isso tem propriedades condutoras, com perspectivas boas para a eletrônica usando o carbono e não mais o silício. No futuro, teremos transistores menores", explica o doutor em Física Antônio Gomes de Sousa Filho, da Universidade Federal do Ceará (UFC). Há projetos também em Farmacologia, Química, Engenharia Química. "O que a gente faz aqui está no nível do que se faz no país inteiro", garante. Há perspectivas diversas a partir da ciência do Ceará. Na arte de fazer navios, o estaleiro cearense disse e fez como construir embarcações de médio e grande porte com a técnica do casco montado de cabeça para baixo. Parece pouca coisa, mas o tempo de feitura de um navio cai à metade. O casco já é desvirado dentro d´água após a solda. Até então, ninguém ousara isso. A qualidade da indústria naval cearense é reconhecida mundialmente, inclusive na confecção de frota bélica para a Marinha brasileira e de países africanos. Há pouco mais de um mês, um navio-patrulha completo foi entregue à Marinha da Namíbia. No calendário dos grandes feitos da ciência local, dia 2 de outubro deste 2009 a menina Vitória Shéryda Sousa dos Santos completará 10 anos. O detalhe: ela foi a primeira bebê de proveta nascida no Estado. De lá para cá, entre as técnicas da inseminação artificial e da fertilização in vitro, só numa das três clínicas locais já foram mais de mil novos cearenses. Se antes precisavam de 100 mil espermatozóides para o processo de fecundação, hoje, segundo os médicos Evangelista Torquato e Fábio Eugênio, autores da façanha, pode-se retirar e trabalhar com apenas um. Com resultado satisfatório. "Antes, pela nossa cultura machista, a mulher vinha sozinha à clínica. Hoje, o marido acompanha na consulta". Evoluímos, continuamos aprendendo. Para onde iremos, em qual oceano digital navegaremos, é a formação atual que dirá. A educação tecnológica avança com a mecatrônica, a telemática, a computação, mas também forma novos gestores ambientais. O mundo técnico e virtual se aproxima do real, do que ainda pode ser resgatado dele. Até 2010, o Instituto Federal do Ceará (nova denominação para o Centro Federal de Educação Tecnológica) terá 12 unidades no Estado e mais 10 unidades de extensão satelizando o ensino em todas as regiões cearenses. No total, previsão de 21 mil alunos aprendendo o que fazer com nosso futuro e a se relacionar com o meio. Em breve, o Ceará também terá a maior rede de inclusão digital do governo federal, através de centros espalhados por rincões. Lugares onde nem se esperava progresso terão laboratório de informática, bibliotecas multimídia e até ensino por videoconferência. Para o reitor do Instituto Federal, Cláudio Ricardo Gomes de Lima, "se o Ceará não foi tão aquinhoado com alguns recursos naturais como em outras regiões, nosso grande patrimônio é a inteligência. É nossa moeda intangível". Iremos além.

Claudio Ribeiro, da Redação.


DA CAJUÍNA. O caju, fruto típico do Ceará, é comum no sertão e no litoral. Acauy vem do tupi-guarani e significa anos. Segundo o padre Ágio Augusto, no livro O cajueiro - vida, uso e estórias, os índios costumavam contar a idade tomando como base a safra da fruta.


TUDO COM TAPIOCA. A goma, um dos derivados da farinha de mandioca, é herança do índio do Siará Grande. É dele a "receita" da tapioca. Na culinária cearense a farinha vai ainda na peixada da água grande, com a carne de sol e feito paçoca.

Fontes; Jornal O Povo e Google Imagens

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