domingo, 29 de março de 2009

MUSEU JAGUARIBANO - Pinturas do século XIX são descobertas em restauração.


Paisagens que lembram dunas e falésias das praias de Aracati estão sendo recuperadas durante o trabalho de restauração (Foto: Melquíades Júnior)


Jovens de Aracati participam do trabalho de restauração de pinturas em motivos florais


A equipe encontrou as paredes com camada de tinta sintética, comum nos anos 90. Tinham cor homogênea


É aplicado solvente químico e as camadas mais externas em tinta sintética sofrem fissuras e desaparecem


Sem as camadas sintéticas, são encontradas pinturas à base de cal. É feita a raspagem, que mostra a pintura original


Obedecendo a intenção da pintura original, os restauradores reforçam com tinta os detalhes do acabamento


As pinturas são figuras geométricas, florais e paisagens que lembram dunas, falésias e mangues das praias de Aracati.

Aracati. Uma casa tem sua estrutura restaurada e, apesar de já se saber da importância histórica de sua arquitetura, seus móveis e do forte simbolismo da rua em que está situada, foi durante as obras de restauração que mais uma mina histórica foi encontrada. Por trás de várias camadas de tinta há riqueza plástica nas paredes do Museu Jaguaribano, em Aracati. Durante as prospecções, descobriram-se pinturas datadas do século XIX, com figuras geométricas, florais e paisagens que lembram as dunas, falésias e mangues das praias da cidade. O Instituto do Patrimônio Histórico e Nacional (Iphan) deverá concluir a restauração do museu até o mês de junho.

A casa onde fica o Museu Jaguaribano, em Aracati, tem mais de 200 anos e durante esse tempo seus compartimentos foram pintados seis, sete vezes. O local foi residência, colégio, clube e hotel até ser museu, em 15 de novembro de 1968, há 41 anos. “Começaram a mexer no prédio e descobriram que havia coisa por baixo daquela tinta nas paredes, fizeram a prospecção, e o Iphan solicitou a restauração”, explica o chefe da equipe de restauro das pinturas originais do Museu Jaguaribano, Emanuel Albuquerque.

“A pintura está excelente, muito bem conservada. O artista inspirou-se nas dunas, nas paisagens do Cumbe (uma vila litorânea), mangues e lagoas”, afirma Emanuel. De fato, logo das janelas do quarto piso do casarão é possível avistar as dunas da Praia de Canoa Quebrada. A paisagem vista do horizonte da janela é repetida nas paredes de um dos prédios históricos mais importantes de Aracati – o museu e a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário são marcos da ocupação colonial do Ceará, por meio de Aracati.

Cinco pessoas trabalham na restauração das pinturas. Destes, dois são da própria cidade de Aracati, selecionados pelo restaurador Emanuel Albuquerque. Os jovens Ronaldo Brás, 21 anos, e Uili Santos, 24 anos, têm a oportunidade de conhecer o patrimônio histórico local. E tornam-se mão de obra qualificada, pois outro casarão ao lado, onde morou o Barão de Messejana no século XIX, também está precisando ser restaurado.

“Nas cidades em que vamos, procuramos treinar pessoas do lugar, e ensinar o ofício da restauração. Sempre formamos auxiliares de restaurador, para que outros casarões e igrejas — há vários templos seculares em Aracati — sejam recuperados. E provamos que as pessoas daqui têm conhecimento, e passam a respeitar mais aquele patrimônio local”, afirma Emanuel Albuquerque, que tem trabalhos de restauração no Theatro José de Alencar, Casarão Tomás Pompeu (também em Fortaleza), Museu de Aquiraz, Museu do Dnocs e imagens sacras em cidades do Interior.

Em edição do dia 20 de abril de 2008, reportagem do Caderno Regional já anunciava os primeiros achados de pinturas antigas nas paredes do Museu, que tinha acabado de retomar os trabalhos de restauração, então suspensos por falta de recurso e por questões burocráticas com a desapropriação do prédio vizinho. A equipe atual de restauradores, também formada por Magda Mota e Ricardo Santos, ambos de Fortaleza, tiveram dificuldades ao retirar as camadas de tinta mais próximas do original — no século XIX, as pinturas de casas de barões eram feitas por verdadeiros mestres, que utilizavam técnicas próprias, como óleo de linhaça, de baleia e ovos numa mistura química que dava mais consistência e durabilidade às pinturas. A dificuldade da equipe é retirar a pintura imediatamente sobreposta à original.

O segundo e o terceiro piso são os que mais apresentam pinturas mais detalhadas, com desenhos. Praticamente tudo está sendo recuperado pela equipe de Emanuel Albuquerque. Os desenhos mais desgastados, como alguns florais, são reconstituídos pela equipe, “mas sem causar muita interferência na parte ainda existente”, assegura Albuquerque.

CENTRO TEMÁTICO
Pavimentos trarão a história do Ceará


Aracati. Um lugar ilustre de um morador ilustre. Foi o prédio do Museu Jaguaribano, antes de tudo, a casa do José Pereira da Graça, conhecido como Barão de Aracati (1812-1889), um aristocrata que foi juiz desembargador, deputado três vezes pela província do Ceará, ministro do Supremo Tribunal de Justiça e vice-governador da província do Maranhão. O Museu comemorou 40 anos e, há quatro anos, teve início a restauração pelo Iphan. Quando concluída a reforma, será um dos principais centros temáticos que conta a história do Ceará. Um elevador é instalado para facilitar o acesso dos cadeirantes.

Um dos casarões mais altos de Aracati — juntamente com o casarão do Barão de Messejana, na mesma rua (desativado, à espera de reparos) — o Museu Jaguaribano guarda um acervo histórico com peças de Limoeiro do Norte, Russas, inclui livros, móveis antigos e equipamentos inusitados, como um canhão de guerra. No térreo, havia um comércio, no segundo e terceiro pisos era a parte residencial do barão, e no quarto, um depósito multiuso.

Dentro do projeto de restauração do Museu, e seguindo a temática de cada andar, o primeiro piso terá instrumentos referenciais dos ciclos econômicos, com máquina de tear e o carro de boi; no segundo ficarão os móveis da Era Colonial (que também estão sendo restaurados); o terceiro abrigará obras sacras, como imagens de santos, telas de pintura etc; e o quarto piso servirá de ateliê, espaço para oficinas de artes.

“O Museu é regido pela sociedade civil, sem cor política partidária e a finalidade maior é a preservação da cultura da região jaguaribana”, afirma José Correa, presidente do Museu. Durante sua existência, o prédio passou por problemas. Conforme ele, foi necessário cortar espaços da casa, demolir paredes que escondiam a estrutura original do prédio. “Mas, no fim, o trabalho foi bom, a reconstituição do prédio”.

IMPORTÂNCIA
Obra é estímulo à preservação do patrimônio público


Aracati. A Rua Coronel Alexanzito, a Rua Grande, é o principal sítio histórico reconhecido em Aracati. Nela, situam-se prédios construídos entre os séculos XVIII e XIX. Desde o tombamento pelo Iphan, todas as intervenções públicas, como obras de saneamento, são acompanhadas de arqueólogos. O Museu é considerado carro-chefe das obras de preservação do patrimônio histórico.

Mas historiadores e arqueólogos reconhecem que muitos fósseis e vestígios foram destruídos na cidade, principalmente pelo desconhecimento quanto ao valor histórico de construções e objetos antigos, por parte de quem fazia intervenções. O restaurador Emanuel Albuquerque denuncia o descaso no casarão do Barão de Messejana. “O lugar possui desenhos originais nas paredes que precisam ser restaurados”.

Para a Superintendente do Iphan no Ceará, Olga Paiva, Aracati é rica em conhecimento histórico, e a conclusão da reforma no Museu será estímulo à preservação do patrimônio público e um passo para que outros sejam revalorizados.

ORIGINAL
ESTÁGIOS

1 TINTA. A equipe encontrou as paredes com camada de tinta sintética, comum nos anos 90. Tinham cor homogênea

2 SOLVENTE. É aplicado solvente químico e as camadas mais externas em tinta sintética sofrem fissuras e desaparecem

3 RASPAGEM. Sem as camadas sintéticas, são encontradas pinturas à base de cal. É feita a raspagem, que mostra a pintura original

4 ORIGINAL. Obedecendo a intenção da pintura original, os restauradores reforçam com tinta os detalhes do acabamento

Mais informações:
Iphan
(85) 3221.6360/ 3221.6263
e-mail: 4sr@iphan.gov.br
Museu Jaguaribano de Aracati
(88) 9902.5275

Fonte: Jornal Diário do Nordeste

Um comentário:

Transver o Mundo disse...

Parabéns ao idealizador do blog. Textos valorizam de forma singela nosso Ceará e dá vontade de conhecê-lo melhor.

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