domingo, 17 de agosto de 2008

PAUPINA - O limite de Fortaleza

Tiago Coutinho
da Redação


Apesar de se gabar de ser um dos bairros mais antigos de Fortaleza, a Paupina se popularizou na cidade, principalmente, depois da criação da Topic 03. O local, de difícil acesso, vive resquícios de uma cidade esquecida

Mosteiro de São Bento, na Paupina. Os moradores se reúnem no lugar para ver a queima de fogos na passagem do ano(Foto: Mauri Melo) Chegar à Paupina não tem mistério. Entra na Topic 03 e pede para descer no fim da linha. Pronto. Caso vá conhecer de carro é arriscado se perder. O bairro, sem ironia, já quase não é Fortaleza. Localiza-se na fronteira do Eusébio. As tapioqueiras são as referências mais antigas. Mas cuidado, não são aquelas tapiocas da Washington Soares de diversos sabores e adereços. As da Paupina são mais grossas, sem recheio, feitas pelas mãos de Dona Maria do Socorro, 52, na base do coco e goma, apenas.

Socorro herdou o ofício de tapioqueira do pai, o finado João Inácio, precursor da venda de tapiocas na estrada antiga para o Iguape, Prainha e Morro Branco, no tempo da piçarra, hoje avenida asfaltada Barão de Aquiraz. "Eu prefiro ficar no meu cantinho mesmo. Naquelas tapioqueiras mais famosas, a briga é muito grande. Aqui, não. É tudo calmo. Vivo bem e tranqüila, com a minha freguesia", desdenha Socorro. De antigo e tradicional, destaca-se também o Mosteiro de São Bento. No topo da Paupina, sob o comando de Dom Beda Pereira de Holanda, o espaço sagrado existe há 15 anos. Quase exótico, o local celebra, aos domingos, a missa gregoriana, cantada em Latim, com público de aproximadamente 500 pessoas de vários outros bairros.

Do alto do templo, a cidade se alarga. Do lado direito, vê-se o Eusébio. Do lado esquerdo, um paredão de prédios, também chamada de Fortaleza. Na vista da frente, a Lagoa da Precabura, limite entre os dois municípios. O Mosteiro, para os moradores, torna-se mais atrativo no último dia do ano. "Como é muito alto. Muita gente vem para cá no dia do Réveillon. Dá para ver os fogos de artifício de toda a cidade. Fica bonito. É uma forma de lazer daqui", comenta Marcondes Rodrigues, 49, consultor de empresas e morador da Paupina há 13 anos. Ele não é, nem poderia ser, o mais velho morador do bairro. "A Paupina é mais antiga do que Fortaleza, do que Messejana. Era parte de Aquiraz, tem mais de 400 anos", gaba-se. Dom Beda confirma as informações. Nos documentos do mosteiro, consta que ali foi, no século XVI, um ponto de evangelização no Ceará. E da fé vem uma versão para o batismo do bairro. "Os índios não conseguiam pronunciar o nome do Padre Antônio Pinto. Falava Pai Pino, com o tempo virou Paupina", pondera o reverendo.

A Paupina fica no limite de Fortaleza, ao lado da Messejana. Ela é o limite, também, de uma cidade apartada. Até a década de 90, a cidade ignorava a região. "O pessoal perguntava onde você morava, você dizia Paupina e vinha logo alguém brincar: 'Onde?'. Ninguém sabia que existia", explica Marcondes. Parte da população do bairro se origina de ocupações urbanas. Basta caminhar um pouco e ver pequenos mutirões, na base de terrenos ocupados. Quando Marcondes comprou sua casa, não havia asfalto em nenhuma rua. Pelo seu envolvimento com os movimentos sociais, ele conhece muito bem a história recente da localidade.

Mesmo entusiasmado e bairrista, no melhor sentido do termo, ele não consegue esquecer as carências do local. Além da Topic 03, há apenas mais um ônibus que assiste o bairro. A linha, também chamada Paupina, demora cerca de 40 min. Lá, também não possui bancos, nem supermercados, nem lojas de móveis ou eletrodomésticos. Há apenas um posto de saúde.

"Muitos dos moradores, portanto, tinham ou têm vergonha de dizer que moram na Paupina e preferem escrever em seus endereços Messejana", explica Marcondes. Como opção de lazer, os moradores escolhem entre banhos - no fim de semana - na Lagoa da Paupina e alguns campos ou quadras de futebol espalhados pelo bairro. As necessidades são supridas principalmente na Messejana.

O nome Paupina popularizou-se nos últimos anos do século XX. A costureira Salete Queiroz, 59, vinda para o bairro nos esquemas de ocupação ainda na década de 70, acredita que com a implantação da Topic 03 e da Rádio Paupina FM, a localidade se impôs à cidade. Ela, que também participou da criação da rádio, não tem falsa modéstia. "Foi um sucesso. Ajudou também que os moradores tivessem orgulho da Paupina. O povo dizia assim: a Paupina é melhor do que os outros, porque até rádio própria a gente tem", saúda.

Extinta, por questões judiciais, em 2006, a Paupina FM 104,9 foi uma Rádio Comunitária que teve sintonia por oito anos e expandiu as fronteiras. Moradores de Maranguape e Eusébio cantaram juntos. Com uma programação lúdica e social, ela trazia atrações musicais do brega ao reggae, além de discussões mais sérias sobre problemas locais. "A gente andava pela rua e todo mundo comentava a rádio. Ainda hoje as pessoas perguntam se nós vamos voltar", diz Salete. A rádio foi uma semente no sentimento comunitário na região. A partir dela, além do orgulho de ser da Paupina, houve mais organização no local.

O empenho atual dos moradores está em garantir o funcionamento da feira semanal, iniciada há cinco meses. Numa média de 50 feirantes, vende-se de tudo. Do peixe fresco ao controle remoto da tevê, carro-chefe da banca do Elivandro, 28. Logo vizinho, vem a barraca do Evaldo, 28. Lá, as mercadorias custam um real: bacia de tangerina ou de goiaba, penca de banana, saco de maçã. A feira acontece às quartas-feiras. Traz também opção de confecção, pastel, bolo. A feira funciona como um ponto de encontro dos moradores e dos cachorros, livres das coleiras.

Como principal meio de comunicação, atualmente existe apenas a comunidade no Orkut, com 732 integrantes. O objetivo do dono é chegar aos mil. Ainda longe do sucesso da rádio. O diálogo virtual consegue mexer com a dinâmica dos que possuem computadores ou dos freqüentadores das 10 lan houses existentes. A enquete do momento no site é "O que você acha de uma TV On-Line na Paupina?". Por enquanto, 50% das respostas estão na opção "A Paupina precisa ser vista pelo mundo, gostei!". A TV On-line é um novo sonho de Marcondes, ex-integrante da rádio. Ele mesmo afirma que não curte pensar no passado, mas no Futuro. E pensar grande. Quem sabe, em breve, o mundo enxerga a Paupina. E os moradores trocarão os controles remotos comprados na feira, por mouses e teclados.


PERFIL

População: 18.499
Localização: Regional VI Tamanho: 837,50 hectares
Distância do Centro: 16,8 Km

Fonte: Jornal O Povo

3 comentários:

Tainara de Carvalho disse...

Não gostei sou presidente da Associção do bairro (AACBP), e esta materia restringiu-se a comunidade paupina e não englobou o resto do bairro, e não era Padre Antonio Pinto, era Padre Antonio de Pina e a Paupina foi fundada em 1607, mas só recebeu o nome em 1763 (Vila de São Sebastiâo da Paupina)

Anônimo disse...

Talvez eu estaria errado, mas sempre achei que foi padre Francisco Pinto a criar o aldeamento de Paupina.
Nunca ouvi falar destes Padre Antonio Pinto, era Padre Antonio de Pina.

Talvez eu estou errando espero de receber noticia, para ajeitar a pagina: http://www.mostachetti.net/fortaleza/?p=136
e nao cair no erro.

Pela resposta e melhor me escrever na email mostachetti@gmail.com

Obrigato

Giancarlo Mostachetti
Tururu (CE)

JoãoDamasceno disse...

"... o bairro localiza-se na fronteira com o Eusébio..." - Fronteira? Não há fronteira entre municípios ou estados e sim divisa. "O bairro fica na divisa entre Fortaleza e o Eusébio".

Um canal de divulgação da politica, esporte, cultura e história do Ceará e do Nordeste.

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