quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Deus salve a rainha ... do maracatu



O Maracatu só existe por causa dela. Com roupa sofisticada e muito carisma, a rainha negra é o grande destaque do desfile na avenida Domingos Olímpio

Débora mantém viva a tradição da família, Laudemir cumpre o legado do mestre e Fátima vive nova experiência. Histórias distintas os levaram a encarnar um mesmo personagem. Rainha de Maracatu. No Carnaval 2010, eles prometem brilhar na avenida Domingos Olímpio. Segundo a tradição, índios, calungas, baianas, pretos velhos e batuqueiros saem pelas ruas em cortejo para a coroação de uma rainha negra. O maracatu torna-se um momento mágico de louvações, com danças e brincadeiras, graças à presença da matriarca real.

Conscientes da responsabilidade em comandar o cortejo, é preciso reunir carisma, glamour e força física. A consultora empresarial Débora Lopes, 23, é rainha desde a fundação do Maracatu Nação Fortaleza, em 2005. Ela ainda era criança quando começou a brincar. Ao lado da família, mantém viva a tradição. E passou por vários postos na corte até chegar ao personagem central.

Com o rosto pintado de preto, tranças e vestida com a fantasia do último Carnaval, ela mostrava que mulher também pode ser rainha. Antes, somente homens ocupavam o cargo. ``A mulher ganhou espaço em todos os segmentos. No maracatu não poderia ser diferente``, afirma. Ela acrescenta que as vestes pesadas não interferem na apresentação. ``Na hora que estou dançando não sinto o peso ou o calor. O sangue ferve e aguento tudo. É só emoção``, afirma.

Este ano, o Nação Fortaleza homenageia Bárbara de Alencar, com o tema ``Bárbara: luz da liberdade``. A roupa está nos ajustes finais, e envolta em segredos. ``Nunca me deixam ver o vestido antes. A emoção é ainda maior porque só vejo todo pronto na hora do desfile``.

Reis de Paus
No Maracatu Reis de Paus, a rainha é o fotógrafo Laudemir Nogueira, 45. Sua relação com o Carnaval também vem desde criança - desfilou pela primeira vez em 1967. ``Sou de uma época em que era tudo muito simples. Comecei como índio, e as costureiras pegavam as penas das galinhas no quintal, lavavam e aplicavam nas vestimentas``, relembra. De índio, passou para princesa e depois rainha.

O responsável pela transformação foi o fundador Geraldo Barbosa. ``Ele estava me preparando para ser rainha, mas não me contava seus planos. Lembro que ele dizia que eu não poderia rodar. Só que princesa roda e eu não entendia porque ele me proibia``. Há uns dez anos, veio a revelação: ``rapaz, você vai ser a rainha esse ano``, disse o mestre.

E o ofício é conduzido até hoje. Este ano, ele e os outros brincantes do Reis de Paus saem com o tema ``Preto velho de Angola``, para comemorar os 50 anos do Maracatu. Com joelheira de tensão, sapato alto e uma fantasia de quase 100 quilos, Laudemir é um dos mais antigos no posto real. ``É só colocar a fantasia de rainha que eu me transformo. Fico mais comunicativo, carismático e glamuroso``, classifica.

E-MAIS

VIDA DE RAINHA
> Primeiro Carnaval de Laudenir Nogueira (vestido de índio).

> Faz parte da indumentária da rainha: saia e blusa bufante, leque, jóias, peruca, esplendor e rosto negro.

> Para o rosto ficar negro, os integrantes do cortejo usam uma maquiagem à base de vaselina, óleo mineral, talco e fuligem de lamparina.

> Elegância, força física, envolvimento com o Maracatu, aptidões artísticas e carisma são elementos essenciais para ocupar o posto de Rainha de Maracatu.

> Antigamente, o cargo de rainha era ocupado pelo homem porque a mulher era proibida de participar do Carnaval. Além disso, a estrutura pesada das fantasias contribuía para que o brincante fosse homem.

> Eulina Moura foi a primeira mulher a assumir o cargo de rainha, no Maracatu Verdes Mares.

Fonte: Jornal O Povo

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